segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nada

Aos poucos você se afasta de tudo isso, e começa a ver um novo tipo de mundo possível abortado todos os dias. Um mundo cheio de cinzas. E tudo parece incompleto, renegado pelo silêncio de quem não devia, de quem não podia calar. Suas relações pulsam vazias refletindo fugas e fantasmas frágeis, e suas unhas machucam as palmas das próprias mãos com uma frequência que não deveria existir.
O sofrimento do mundo é refletido em cada objeto, profissão, pensamento. A miséria te sufoca todos os dias, não por você vivê-la mas por você permitir a sua existência.
Você se afastou do mundo e percebe padrões lamentáveis se repetindo todos os dias, todos os dias. Padrões tristes e sós.
As músicas e as linhas e as cores assopram suas feridas de vez em quando, mostrando timidamente as vezes que respiraram por aqui. Raros e sutis momentos em que o nada deixou de ser nada, quase como um milagre. Mas isso também irá desbotar e sumir: porque suas mãos pequenas e suaves se recusam a juntar-se às outras, sua voz se esconde matando com isso tantas outras línguas. E lá no fundo você ainda acha as justificativas de sempre, enquanto o mundo desfalece em gritos angustiados e lágrimas impotentes. Ao final, você conseguirá ser o nada que sempre disse ser.

"This face and heel
Will drag your halo through the mud
Ash of pompei
Erupting in a statues dust
Shrouded in veils
Because these handcuffs hurt to much "


The Mars Volta - Cicatriz Esp

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Flutuando

Nunca realmente soube o porquê dessas linhas. Elas sempre apareceram entremeadas em idéias "repentinas", fingindo ser novas diante de todo este nada, do vazio que tento esconder atrás de futilidades e lugares comuns.
Hoje existi novamente, com a mesma hesitação de sempre, como se num suspiro pudesse deixar escapar essa frágil teia que os outros chamam por meu nome; Esse véu incapaz de esconder minha nudez.
Gostaria de ser sólida, maciça, de pisar o chão e fecundar a existência com versos fortes e inspiradores, à guisa dos grandes mestres mortos que assombram minhas manhãs. Mas minhas palavras não têm peso, e flutuam a contragosto num ar denso demais, ar que não enche meus pulmões, ar que afoga ao invés de salvar.
Por vezes reúno timidamente significados, fingindo opacidade na poça transparente que eu chamo de eu. Transparência frágil de plástico vagabundo, de vodca barata, de senso comum e medianidade. Sofrimento em tabletes embalados separadamente. Ignoro sua superficialidade, a repetição incansável mordendo meus calcanhares, a maquiagem mal feita que na verdade expõe rugas e olhos inchados. E regurgito o mesmo tema odiosamente metalinguístico, baço de tanto uso, derretido entre tantas comparações. O que escondo com isso, nos textos, será também nada ou se mostrará como só mais uma pequena coisa, insignificante e solitária?