sábado, 29 de dezembro de 2007

Projeto leitura de férias : "Caçando Carneiros" - Haruki Murakami

Então, terminei esse livro hoje e me surgiu a idéia de registrar o que tenho lido nessas férias. Não será algo como resenhas não, só a minha impressão do que tenho lido. Caso saia algo a lá 'leituras recomendadas' achado em revistas semanais, não foi essa a intenção.
Bom, o livro do Haruki Murakami não é o primeiro que leio nessas férias, mas o fato de ter me dado vontade de registrar em algum lugar a sensação de o ter lido demonstra que ruim ele não é, na minha singela opinião. A obra tem uma narrativa rápida e gostosa de ler, que começa com capítulos bem curtos e sucintos que aos poucos vão se encompridando à medida que a trama da história se desenvolve. O engraçado é que a história é meio absurda, mas isso não é contado de forma extravagante ou cinematográfica. O autor conseguiu focar mais nos detalhes do cotidiano (que expressam muito bem cada personagem) do que nos fatos correlacionados esquisitamente e que levam a acontecimentos mais estranhos ainda, envolvendo carneiros e grandes corporações. É legal que ele meio indiretamente expõe isso, pois o personagem principal (que é o narrador da história) mantém um relato minucioso de quantos cigarros costuma fumar durante o dia, ou suas refeições e a forma de prepará-las mas esquece (ou se lembra muito depois) de informações que o ajudariam muito em sua busca, que teria tudo pra ser o ponto alto da história, já que é quase uma fábula. Outro detalhe legal é que nenhum dos personagens tem nome. Confesso que me assustei um pouco quando li essa particulardade do autor nas orelhas do livro, mas isso não se mostrou empecilho nenhum ao reconhecimento de cada personagem.
Dei algumas boas risadas com os diálogos, que me lembraram bastante os de Pulp Fiction devido às argumentações sérias a respeito de temas absurdos. Divertido bagará. Isso me fez simpatizar um monte com o personagem principal, a portadora das orelhas mais bonitas do mundo e com o motorista do carro, que aparece poucas vezes mas marca presença em todas elas.
No verso e nas orelhas (escritos pelo editor), o livro é colocado como um retrato do "niilismo pós-industrial japonês", marcado por impessoalidade, fetiches por marcas e outras coisas mais. Nem senti isso não. Apesar do autor não explorar características extremamente pessoais, sentimentos e as relações entre os personagens de forma descarada, ele demonstra a humanidade deles de outra forma, como nos atos e nas comidas que o personagem principal prepara. O autor usa uma linguagem sem muitas firulas, mas isso não me passou a impressão de automatismo dos personagens ou coisas do tipo. Já li muitas coisas que demonstram um Japão e uns japoneses muito mais frios, levados por marcas, niilistas consumistas pós-modernos, etc -o que inclui revistas de moda de lá-. O livro tem um tom bem triste em certas partes (creio que foram nelas que o editor se inspirou), mas nada que não se veja no nosso dia-a-dia de cidade grande. Há uma ligeira sombra de crítica à sociedade capitalista, mas só fica nisso mesmo, ligeira sombra. Uma penumbrinha, eu diria até.
Enfim, eu recomendo a leitura.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Bom dia

Não sabia o que dizer, o que pensar. Violência, claro; Antiga, a mesma que a retirara do útero. Os olhos, abertos e cegos por toda aquela luz. Os ouvidos, repentinamente alertas. Ambos imersos num nada irracional de susto; sufocados por todo aquele monte de informação crua, dolorosa, desnecessária. As ondas sonoras se mesclavam, mecânicas que são, aos seus sentidos, ansiosos por deixarem sua primeira função e voltarem à segurança quente das cobertas. Exatamente a mesma força, a mesma viril e bruta força que a puxara de uma só vez pelo corte na barriga. Não sabia o que dizer, mas sabia como: o grito saiu então como quem respira, natural, límpido e claro. Saiu, como quem nasce, em busca de algo para cessar tudo aquilo, se erguendo numa cortina que fingia ser muro. Achando que em um grito se podia engolir o mundo, com todas as suas velharias. Tolice. Então, o medo, medo da montanha de raiva e pêlos que agora se impunha diante dela, pulsos em riste, ameaças gritadas e pequenas bolas de cuspe se grudando em seus globos oculares. Não ousou sequer piscar, e a face dele adquiriu o formato de algum tipo de aberração achada em livros de rpg. Nova velha violência, e o silêncio. Bom dia.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

De volta pra casa.

Adoro a sensação de final de semestre. Misturadas à gastrite -que perdurará durante as férias- sempre está um novo fôlego vindo sei lá de onde. E a perspectiva da volta pra casa, tão diferente a cada vez. Vou rever pessoas queridas, não ver pessoas queridas, talvez (re)encontrar pessoas que já foram as mais queridas, evitar as que não são mais. Aos poucos, essa expectativa se torna menos apavorante e mais gostosa, mesmo que com ela venham as tão temíveis decepções. Ainda há pra quem voltar, e ora pois, sempre haverá. Ao menos nos próximos dez anos, enquanto a morte não diz olá pras pessoas mais queridas eternamente, enquanto os caminhos das ainda queridas pessoas não se separam definitivamente -como ocorreu com algumas-, enquanto os das não mais queridas simplesmente perdem toda a cor, e claro, o sentido. E ainda assim, quando tudo humano tiver virado pó ou se perdido no meio dele, ainda haverá ela, com suas retas e aquele céu que me arranca pelo menos um suspiro por vez. No dia em que as entranhas de Brasília morrerem, ainda haverá sua casca, que está também esculpida nas minhas tripas, de uma forma muda e pulsante. Afinal, é nas folhas secas e ruas largas que meus pés aprenderam a andar. E não há como não ser delicioso e dolorido toda vez.